As temidas mordidas

Nesta fase de 1 a 2 anos, as mordidas são esperadas, pois, a criança além de não se expressar ainda verbalmente, a boca é a primeira interação com o mundo. Com ela, faz incríveis descobertas!

Existem vários motivos para que a criança, nesta primeira infância, morda. A mordida faz parte dos mecanismos de defesa mais primitivos do homem e as crianças desde o nascimento costumam sugar, chupar, mastigar, morder, levando tudo o que encontram à boca.

Esta fase, então é conhecida como “fase oral” e é nela que as crianças buscam novas sensações, entendendo melhor o mundo em que vivem, tendo consciência de seu corpo, do outro e dos limites. Como não conseguem comunicar-se verbalmente, pois ainda não aprenderam a falar direito, é bem comum darem mordidas, expressando assim, suas necessidades, suas insatisfações, seus descontentamentos, suas vontades, precisam extravasar suas ansiedades e suas angústias, enfim, seus sentimentos, que muitas vezes, ainda não estão totalmente claros. Mordem por não se expressarem claramente, sem um repertório eficiente para sua comunicação

Muitas vezes, as crianças mordem como uma maneira de chamar a atenção dos pais, pois podem estar atravessando um momento de “turbulência” em casa. Seus pais podem estar brigando, em fase de separação, a mamãe pode estar grávida, um irmãozinho(a) pode ter acabado de chegar, a dinâmica da casa pode estar revirada, casa nova, uma visita interferindo na rotina diária e até atitudes dos pais e dos avós que brincam de morder a barriguinha ou alguma gordurinha da criança. Aí, a criança tende a repetir e imitar exatamente este comportamento sem ter o controle do seu físico e, o irmão ou o amigo são os primeiros alvos.

Outro fator é quando a criança, sentindo-se contrariada, avança e “nhoc”, morde quem lhe disse um “não”.

Às vezes, esta fase de mordidas coincide com a entrada da criança na escola, na qual, tem que compartilhar a atenção da professora, dividir e disputar brinquedos com os amiguinhos, a separação não consciente da mamãe, o ciúme da professora com a chegada do amigo novo, entre outros. Tanto na escola como em casa, a criança que tinha atenção só para ela e tinha todos os seus desejos atendidos prontamente, acaba sentindo-se frustrada, angustiada, preterida, etc… e sua maneira de enfrentar esta situação é distribuir mordidas no braço, na mão, no rosto, nas costas do irmão ou do amiguinho ou também chutes, beliscões, tapas, arranhões, puxões de cabelos.

Nós, então, necessitamos trabalhar em conjunto, numa mesma sintonia, seguindo atitudes próximas, sermos firmes, mostrarmos o ferimento de quem foi mordido, explicando-lhe que ele machucou o amigo, que ele tem dor, que ficou triste, tentarmos descobrir o que pode estar desencadeando esta situação e ai encontrarmos estratégias para minimizar tal atitude. Sempre ao falar com a criança que mordeu, abaixe na sua altura, olhe em seus olhos, converse sem gritar, mas com firmeza e seriamente, mostrando-lhe que existem outras formas de se expressar, inclusive, estimulando-o a pedir desculpas.

Ao percebemos que esta atitude continua se repetindo, conversamos carinhosamente, colocamos a criança junto a nós, acalmando-a, pedindo que respire, relaxe longe das brincadeiras durante alguns minutos, tempo suficiente para que perceba que ficamos descontentes. Com o tempo, tendo maior controle verbal, ela tende trocar as mordidas pelas palavras, conversando mais do que agindo com o seu corpo físico. E, raramente, após 3 anos, ela continuará mordendo, pois aprendeu a comunicar-se da melhor maneira possível.

É importante sabermos agir diante de tal fato, com coerência, discernimento, paciência e carinho. Isto é uma fase e vai passar! Sabemos inclusive, como é terrível receber a noticia que seu filho foi mordido e, para nós, muito triste, termos de dar-lhes esta noticia. Não gostaríamos jamais que isto acontecesse, mas às vezes é inevitável, tudo acontece rápida e instintivamente. Um bracinho apoiado em cima de um brinquedo pode ser um “alvo” para esta criança.

Portanto, cuidado com as palavras, como “mordedoras”, “roedoras”, “animais”, etc… cuidado com “tirar satisfação” com os pais de quem mordeu, pois nada adiantará. Pense que um dia seu filho pode ser esta criança que morde!!!

Os pais da criança que morde já estão profundamente constrangidos, arrasados, chateados, preocupados, sem saberem como agir e tristes ao perceberem que seu filho está sendo “isolado”, “deixado de lado”, “preterido” ou até mesmo “rotulado”. Então, vamos tentar juntos, com carinho e atenção especial ajudar nossos pequenos, nesta fase tão delicada. A conversa franca, o amor incondicional, a entrega com qualidade, o infinito lúdico proporcionarão a esta criança o sentimento de ser AMADA, QUERIDA, ACALENTADA, PREFERIDA, que logo esta fase desaparecerá.

COM CARINHO
SALAMÊ MINGUÊ